O Microcosmo da TI
Para aqueles que já estão há muito tempo na área de TI, não será novidade o que eu irei comentar nas próximas linhas. Já para aqueles que estão iniciando agora, ou há pouco tempo, tenho certeza de que muito do que será dito aqui, será aproveitado.
Trabalho desde 1988 na área de Tecnologia. Comecei como desenvolvedor, trabalhando com DBASE II Plus. Era uma época romântica aqui no Brasil, onde ainda não se exigia nada mais do que conhecimento (esse muito escasso na época) para se conseguir uma vaga com uma boa remuneração. Em muitas empresas, existia uma única área onde ficavam agrupados operadores, programadores e todos os envolvidos na operação com a área de TI. Essa área se chamava CPD (Central de Processamento de Dados). Claro que não é uma verdade única, pois já existiam empresas melhor estruturadas, mas a maioria ainda se comportava dessa maneira.
Depois veio a segmentação por área, por especialização, e o profissional que fazia um pouco de tudo, começou a dar lugar a especialistas em redes, linguagens de programação, sistemas operacionais e daí por diante. Também não é uma realidade em 100% dos casos, mas tudo caminha para esse cenário nas maiorias das empresas em um futuro próximo. Esse panorama mostra que vem aumentando exponencialmente o número de profissionais nos quais temos que nos relacionar na área de tecnologia, independente da área de atuação do profissional.
Não é minha intenção falar sobre a história da TI, mas tudo o que explanei até agora, servirá de base para o assunto principal. Este mais focado no relacionamento e no comportamento que o profissional de tecnologia vem desenvolvendo e as consequências disso tudo no mundo atual.
Mundo pequeno e que dá voltas
A maioria já ouviu falar que esse mundo da TI é pequeno. Por mais globalizado que ele seja atualmente, é a mais pura verdade. Você com certeza acaba esbarrando com alguém que já trabalhou em outra empresa, ou mesmo em um projeto conjunto com terceiros.
Em uma realidade onde redes sociais, blogs e tantas outras ferramentas nos aproximam mais e mais uns dos outros (Mesmo nos distanciando fisicamente). Serviços mais especializados como o Linkedin, fazem bater a nossa porta praticamente a maioria dos profissionais que fizeram parte em algum momento de nossa carreira. Carregando consigo, todo o histórico bom ou ruim que tivemos nesses relacionamentos com cada um deles. É um arquivo vivo de tudo o que fizemos até agora e está a disposição de empregadores, lideranças e de todos que passam fazer a diferença em nossa ascensão profissional.
Conheço muitos profissionais que me relataram participações em entrevistas, onde o entrevistador sabia mais detalhes sobre a carreira deles do que eles mesmos conseguiam se recordar. Trabalho de detetive ? Claro que não ! Bastou uma rápida consulta em seus blogs, ou nos perfis do Linkedin. Tudo a disposição de maneira clara e detalhada com timelines e minúcias de tudo o que fizeram profissionalmente nos últimos anos. Para muitos foi tranquilo e até interessante que soubessem tantas informações sobre eles. Muito tempo foi poupado, pois só houve a necessidade de confirmação dos relatos e dados. O que para alguns é um problema, para outros é uma garantia de confirmação das informações que tinha sido citadas em seus currículos.
Se tivessem mentido, ou mesmo usado sua imaginação para acrescentar fatos que não fossem reais, a história profissional deles poderia ter sido completamente diferente. Para os incautos que costumam exagerar um pouco e transformar sua história em uma epopeia, saibam que os fatos estão cada vez mais a disposição para consulta e podem mostrar uma realidade bem menos interessante. Isso pode gerar uma grande insatisfação e até mesmo um sentimento de falta de confiança na palavra de quem utiliza esse tipo de artifício.
Para aqueles que são mentirosos compulsivos, saibam que suas desventuras serão cada vez mais conflitadas com fatos que podem desmentir as apropriações indevidas de conhecimento e relacionamento. Além de limitar cada vez mais o seu acesso ao mercado. Não adianta omitir informações, pois a falta delas podem gerar desconfianças ainda maiores. Trabalhei com ciclano, estive em um projeto com fulano e conheço isso e aquilo, podem ser contestados com um e-mail de pedido de referência ou mesmo com um simples clique em uma rede social. Pensem nisso !
Não vou nem entrar no mérito de se isolar virtualmente. Todos sabem que profissional bom, é aquele que mostra e comprova o que sabe. Grande diferencial nos dias atuais !
Relacionamento é importante
Saber se relacionar profissionalmente, é atualmente tão importante quanto ser proficiente naquilo que se faz. O conceito de equipe é cada vez mais utilizado e dificilmente alguém consegue se manter como uma ilha dentro de uma empresa estruturada. Os profissionais são cada vez mais exigidos no quesito comunicação.
Como citado no começo do artigo, temos que nos relacionar cada vez mais com profissionais de outras áreas. Um exemplo pode ser dado com o desenvolvimento de um sistema. É necessário muitas vezes conversas com Sponsors, key users, PMs (Project Manager) e se levar em conta apenas os profissionais de TI, verá que serão necessárias reuniões e conversas constantes com especialistas em S.O., rede, comunicação, banco de dados e com o resto da sua equipe. Não importa em que ponto da cadeia você está, em algum momento terá que fazer parte de algo maior.
Ter um relacionamento profissional, necessariamente não significa que deva existir um pessoal. Você não precisa “gostar” ou mesmo conhecer a vida fora do horário comercial daquele que convive com você profissionalmente. Existe uma receita simples para se manter um bom relacionamento, basta sempre utilizar o bom senso, ter respeito e praticar o conceito “eu ganho, você ganha”. Exercitar isso é importante, e evitar atritos não profissionais pode futuramente trazer bons frutos. Não se esqueça de que mesmo que um dia não faça mais parte da mesma organização de um colaborador discordante, existem grandes chances de que isso possa ocorrer em um outro local e com posições diferentes. O mundo é pequeno…
Claro que nem sempre nos relacionamos com pessoas que se baseiam nesses mesmos conceitos, mas a partir do momento que praticamos isso, nos defendemos de quaisquer ameaças de falta de profissionalismo. Saber se proteger de potenciais problemas, também faz parte do aprendizado nas relações profissionais.
Faça bem feito, aquilo que se propor
Workaround, gambiarra, quebra-galho. Palavras que muitas vezes fazem parte de um cotidiano onde tudo deve ser resolvido de maneira rápida, e nem sempre da maneira certa.
Atire a primeira pedra aquele que nunca utilizou ou foi solicitado a utilizar esse tipo de artifício. Julgo legítimo que isso ocorra em certos casos, mas o problema é quando se torna um hábito e todo e qualquer trabalho se torna um anárquico e compulsivo estilo de se resolver questões de âmbito profissional.
Olhando pelo lado do desenvolvedor. Sabe aquele código que foi desenvolvido em 1 dia para resolver um problema ? Aquele sem comentários, fora de padrão e com hardcodes que podem ser mais difíceis de decifrar que hieróglifos ? Eles podem gerar dias e mais dias de demanda para se dar uma manutenção futura por outro profissional.
Muitos podem pensar: “Não trabalho mais em tal empresa e não é mais problema meu !”. Esse comportamento pode gerar consequências negativas no futuro. Como ? Entenda que todo profissional tem um legado. Esse legado pode ser positivo ou negativo. Garanto que os negativos serão muito bem lembrados quando ocasionarem demandas que tenham custos.
Gestores e companheiros de trabalho costuma ser relativamente honestos com os desvios técnicos de um profissional de mercado. É bom se levar isso em consideração ao pedir uma referência ou mesmo pleitear uma vaga em uma equipe que tenha algum parceiro de profissão de outros tempos.
Como evitar isso ? Simples ! Faça bem feito aquilo que se propor a fazer ! É o seu legado que está em jogo !
Não pare no tempo
Parar de se atualizar pode ser um verdadeiro tiro no pé para profissionais de áreas que exigem cada vez mais pessoas capacitadas e atualizadas. Estudar faz parte do tempo que se dedica a atividade profissional.
Conheço alguns profissionais que se encontram nesse limbo temporal. Se julgam imunes a demissão e estáveis por trabalharem em empresas que utilizam tecnologias antigas ou por guardarem para si conhecimentos de negócios específicos dentro da organização.
O que acontecerá quando a empresa acordar e perceber que deve correr atrás do tempo perdido ? Não é preciso ter imaginação fértil para se adivinhar o desfecho.
Acompanhar a evolução das tecnologias nas quais se trabalha é preponderante para um bom profissional. Como se tomar decisões sobre algo no qual não se conhece todo o seu potencial ? Como se fazer um bom trabalho sem a informação necessária para isso ?
Quando utilizo o termo “atualização”, não significa simplesmente tirar um monte de certificação ou mesmo sair fazendo um monte de cursos. Muitas vezes o conhecimento está acessível através da web em portais, comunidades, fóruns, listas de discussões, etc…
O Ricardo Portilho escreveu um artigo interessante e que julgo de leitura obrigatória. Ele endossa em parte o que escrevo aqui e pode ser lido acessando esse link. Outro que indico é o do Victor Armbrust e pode ser lido através desse link.
Resolvi incluir esse tópico no artigo, pelo fato de que ele é parte indivisível da afirmação de que se é impossível fazer bem feito aquilo que se propõe, sem dominar o que se faz.
Conclusão
O que escrevi nesse artigo são impressões pessoais de um profissional que está há um tempo considerável na área de TI. Tenho certeza de que muitos se identificarão com o que foi escrito, assim como muitos não concordarão com a mensagem aqui passada. Essa é a beleza de se poder criar um debate sobre um tema !
O relato das impressões e opiniões acima, sempre foram úteis e funcionam muito bem na minha carreira até o momento atual. Espero que possam ter alguma utilidade a aqueles que dediquem o seu tempo na leitura desse artigo. E o mais importante, que possam expressar suas opiniões através de comentários ou e-mails.
Um grande abraço
Abraço